top of page

A SENSIBILIDADE À PALAVRA

  • Foto do escritor: Paula Coelho Pais
    Paula Coelho Pais
  • 2 de fev. de 2020
  • 3 min de leitura

Tenho para mim, no que se me é dado oferecer nos últimos anos de lecionação, que os alunos são cada vez menos suscetíveis e sensíveis à palavra, designadamente à palavra falada e dita pelo professor. Muitos não têm pura e simplesmente paciência, ou sequer capacidade, para ouvir alguém mais de cinco minutos seguidos e, mesmo esses – os professores e educadores sabem-no bem – a muito custo e por entre dezenas de interrupções, tantas vezes – assumamos – completamente despropositadas.

Acredito que, infelizmente, muitas são as crianças que não têm quem, na sua primeira infância, fale efectivamente com elas numa esfera sistemática de diálogo; de pergunta e resposta, sabendo dar a vez e esperar pela sua oportunidade de falar de um modo pertinente enquanto se escuta o outro em silêncio e atenção.

Não quero ser injusta claro está. Há casos e casos. Muitos casos diferentes, obviamente. Falo apenas de uma tendência que me parece crescente. Se já não é novidade que o gosto e o hábito pela leitura têm vindo a sofrer sérios revezes (mesmo em diferentes suportes), parece-me que a capacidade de ouvir e escutar o outro também está a ser ameaçada, com um crescente défice de “bons ouvintes”. Fenómeno este que se torna também transversal a todas as faixas etárias.

Mas são efectivamente poucas as crianças que são capazes de escutar ac

ree

tivamente os seus interlocutores, de um modo sereno e atento, durante um tempo significativo. Logo, também, os seus professores. E a escola não pode realmente fazer tudo, sobretudo quando o trabalho inicial dos primeiríssimos anos, não foi realizado ou está seriamente comprometido.

E se os dias de muitas das nossas crianças são passados, desde os primeiros tempos de vida, numa cegueira auditiva do discurso humano, entorpecidos pelo reino esmagador dos média, tantas vezes sem qualquer qualidade ou exigência de conteúdo, como serão elas capazes de ouvir atentamente alguém, para mais com uma mensagem que carece de algum esforço e aplicação, como acontece na escola e na sala de aula relativamente aos diversos conteúdos programáticos?

Não estou obviamente a criticar a imagem de qualidade – linguagem maravilhosa e essencial, nem as múltiplas ferramentas e aplicações no âmbito do digital e do electrónico – mas sim, um universo de oferta diária da imagem avulsa que se oferece sem atributos pedagógicos exigentes inundando, sem critério, o tempo da infância. De igual modo lamentar a falta de espaço quotidiano dos primeiros educadores, nomeadamente das famílias, para criar nos mais novos, desde o nascimento, o gosto e a paciência pela palavra falada e pela mensagem do outro, mormente através de uma conversa calma à hora de jantar, com a televisão desligada, ou de um conto ou história sobre a qual se fale um pouco antes de ir dormir.

Sabemos todos que a vida é difícil. Muito difícil. Que andamos todos cansados e que o tempo é escasso. Mas falamos dos nossos filhos. Do que temos de mais precioso. Igualmente do futuro da nossa sociedade e da nossa responsabilidade social em preparar os nossos jovens para fazer parte ativa e consciente de uma colectividade bem formada e proactiva. Uma colectividade que saiba ver, mas também escutar e entender criticamente o mundo. Com paz, paciência e pertinência.

A aprendizagem exige esforço. Mas parece-me que este é um novo tabu que muitos não pretendem ultrapassar, sob o mito do divertimento global do ensino. E por isso, muitas vezes não se aceita a exigência. Não se querendo entender também que o verdadeiro conhecimento é gerador de auto-estima e que é desta e da segurança que o saber oferece que nasce o verdadeiro gosto e o prazer de aprender.

E que muitas vezes isto não é fácil. Mas será sempre compensador. Desde pequenino e para toda a vida.

…..

Paula Coelho Pais

Lisboa, 8 de Novembro de 2018

 
 
 

Comentários


Tel: 011-3456-7890  I  Fax: 011-3456-7890  I  info@meusite.com

Tardes de VerãoPaula Coelho Pais (Piano e Composição)
00:00 / 01:21

© 2023 por Nome do Site. Orgulhosamente criado com Wix.com

  • Black Facebook Icon
  • Black Twitter Icon
  • Black Google+ Icon
  • Black Instagram Icon
  • Black LinkedIn Icon
bottom of page