Ser ou não ser… desarrumado… Parte II
- Paula Coelho Pais
- 22 de nov. de 2019
- 2 min de leitura

Quem me conhece bem, sabe que tem sido uma luta de toda a vida. E que gostaria muito – também neste aspeto – de honrar a memória de minha Mãe.
Este facto, “agravado” por ter casado com um homem super arrumado, organizado, metódico e quase obsessivo com equilíbrios e simetrias, levou-me com maior urgência a tentar desvendar o tortuoso caminho das causas da (des)arrumação.
E o que descobri? Vários fatores que julgo interessante partilhar, e entre os quais destaco para já os seguintes:
1. Ser desarrumado é sobretudo uma condição, e não resulta necessariamente do modo como fomos educados. Eu sou a prova disso. Educada, como já disse, por uma Mãe arrumadíssima, nunca consegui lograr esse mesmo intuito, para mal dos meus pecados. Nascemos assim, como quem nasce daltónico ou canhoto.
2. Os desarrumados são muitas vezes recoletores de objetos. Não falo aqui dos acumuladores compulsivos (não é esse como já referi, o âmbito do meu estudo). Mas o facto é que nós vemos cada objeto de um modo diverso. Cada um tem uma história, significa algo, pode vir a ser útil. Vemos efetivamente propósito e utilidade nas mais pequenas coisas e até lhes achamos graça. De forma que nos custa imenso desfazer-nos seja do que for. E de um modo geral, gostamos de nos rodear de muitas (pequenas) coisas que qualquer outra pessoa deitaria fora sem pensar duas vezes. Elas dão-nos conforto e fazem-nos companhia.
3. O desarrumado é muitas vezes uma pessoa aparentemente dispersa, que parece não saber onde põe as coisas porque não se consegue focar no que está a fazer. Na realidade, as mais das vezes, ele ou ela está a construir toda uma linha de pensamento secundária enquanto ativa a primeira. Ou seja pode arrumar um garfo junto das facas apenas porque ao mesmo tempo está a construir mentalmente um projeto que tem em mãos e a pensar no telefonema importante que vai ter de fazer em seguida. E se não tiver cuidado, nunca mais se lembrará onde ficou aquele objeto mal arrumado. Se projetarmos este tipo de atitude a mais situações poderemos facilmente calcular o que poderá acontecer numa casa no espaço de uma hora, sem que, muitas vezes tenhamos disso verdadeira noção.
4. As casas para desarrumados têm de ser organizadas de modo diferente do habitual. Por exemplo, de nada adianta dispormos de um roupeiro ou despensa muito fundos e até aparentemente espaçosos e com muita arrumação, se muitas peças ou objetos não estão acessíveis na 1ª linha de acessibilidade. É meio caminho andado para já nada ser devolvido ao lugar se estiver tudo em camadas inacessíveis. E, com a pressa do dia-a-dia, rapidamente parecerá que passou por ali um pequeno ciclone.
5. O desarrumado deverá aprender a conhecer-se desde muito novo, não permitir que alguém o agrida psicologicamente com acusações cruéis, mas ir tentando melhorar por si, através de estratégias que lhe sejam facilitadoras de um ambiente mais organizado, sem que isso ponha em causa a sua maneira de ser.
Comentários